quinta-feira, 11 de março de 2010

Perguntas sobre heróis

Numa noite dessas, daquelas em que não se tem nada a fazer, eu estava dormindo no sofá da sala, quando, por peça do acaso, acordo e o som da TV ecoa em meus tímpanos. Era a voz de Pedro Bial, dizendo algo como: - Vamos fazer contato com os nossos heróis! Ele dizia aquilo com tanta empolgação que quase me convenceu de certo heroísmo, mentira, mas, instantaneamente, meu absurdômetro foi acionado, como pode alguém considerar como heróis um monte de jovens de classe média e média alta, que ficam dentro de uma casa sem precisar trabalhar, com direito a festas muito bem produzidas, piscina, academia, prêmios caríssimos e ainda um deles ganhar uma fortuna de um milhão e meio de reais?

Realmente essa questão começou a me intrigar muito, serão os heróis nacionais pessoas que simplesmente não contribuem em nada para nosso país? Será mesmo que os brasileiros e, principalmente, a nossa juventude consideram esses brothers como heróis? Francamente eu espero que não.

Afinal, quem são os verdadeiros heróis do Brasil? Não é uma pergunta a qual se responda tão facilmente. Seria o herói nacional aquele que fica em pé em cima de um tronco por algumas horas e ganha um carro ou aquele que fica em pé o dia todo cortando cana-de-açúcar e nunca terá um carro? Seria o herói nacional aquele que ganha milhões de reais somente por ser simpático e cativante ou aquela mulher de 45 anos que aceita, em meio ao desespero, qualquer emprego, pois é considerada velha na maioria das entrevistas? Teriam os heróis nacionais corpaços bem definidos ou seriam obesos que sofrem preconceito em qualquer lugar que vão? Sinto-me desconfortável quando começo a refletir sobre os problemas da futilidade humana, mas é necessário encarar.

Às vezes tenho a sensação de que heróis não existem mais, porém, o que são aqueles, que com apenas 15 anos de idade acordam às 5h da manhã para irem trabalhar como peões de obra durante o dia todo, senão heróis? E lá no Amazonas, o que são aqueles professores que passam horas dentro de uma jangada para levarem educação além das fronteiras, senão heróis? E o brasileiro que luta diariamente para não morrer de fome, o que é senão herói? E o que são os jovens das favelas que tentam mudar a realidade de suas comunidades, que tentam não seguir os passos da criminalidade, senão heróis? E cada um dos brasileiros que de uma forma ou de outra tenta melhorar a nossa nação, o que é? Não será um herói?

Há alguns meses me deparei com uma questão interessante... Um jovem senhor olhou para mim e disse: - No meu tempo os jovens admiravam Che Guevara, e hoje quem é o herói da juventude?
Bá! Eu desandei depois disso. Quem é o herói da juventude? Pus-me a pensar com afinco, mas nada foi produzido. Seriam Prestes e Zumbi? Cazuza e Renato? Ronaldo e Pato? Os bobos do programa Pânico e os tolos do BBB? Sinceramente, eu não soube o que responder. Calei-me e só.

Mas afinal, o que devemos esperar de um herói? Penso que não devemos ser idealistas, não devemos acreditar em um herói plano, como se diz na teoria literária, que será sempre o bonzinho, heróis devem ser humanos, esféricos, com diversos problemas, mas sempre dispostos a lutarem para conseguir superar o que está ruim. Esses, sim, serão os heróis.

Pensando nisso, lembrei que volta e meia recebo em minha caixa de e-mails um texto falando mal do Cazuza. Não quero defendê-lo, pois realmente só consigo admirar a música dele, mas dizer que não devemos admirar alguém porque esse alguém usava drogas soa-me um tanto quanto estranho. Sinceramente, sem fazer apologia a nada, o que é a juventude brasileira senão drogada? Quando digo drogada não quero simplesmente falar em maconha, cocaína... Quero falar dos problemas contemporâneos que entopem os jovens com drogas de tarja preta; quero falar das drogas intelectuais que a TV brasileira passa aos jovens diariamente; quero falar das drogas ideológicas que nos são impostas durante anos por uma educação alienadora; quero falar da pior de todas as drogas que é a vida sofrida no ciclo vicioso do capitalismo. É fácil atacar com falácias moralizantes, mas onde estão os heróis morais de hoje? Como querer exigir um herói moralista onde a moral já está misturada com a malandragem? Como querer exigir um herói correto quando o certo e o errado se confundem em novos conceitos de comportamento?

É, é sim, muito difícil de encontrar o herói nacional, mas, no fundo, no fundo, o gostinho de heroísmo deve ser provado por todos, por todos nós, brasileiros que, em nosso dia-a-dia, lutamos por nossas vidas, por nossos amigos e nossas famílias; que temos a esperança de um dia melhor assim que acordarmos; que conseguimos encarar a política mesquinha que se aflora cada vez mais; que, por menor que seja a contribuição, construímos um país melhor a cada passo que damos. O herói sou eu, o herói é você.

4 comentários:

  1. Meus parabéns! Esse é o primeiro blog a não ser o meu que me fez ficar grudada no monitor só pra ver a conclusão do texto e a tua opinião sobre "o que é herói". Me senti envergonhada por ter como herói pessoas erradas e teu texto me fez refletir nisso que muitas vezes idolatramos as pessoas erradas e há quem deveríamos idolatrar é nós mesmos que toda manhã que se levantamos de nossas camas pensamos em um dia melhor que ontem isso sim pra mim heróismo é ter alguém que pensa no ontem,hoje e amanhã e repito novamente PARABÉNS! O melhor texto que já li falando de BBB.

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  2. Quando Bial se refere aos participantes do BBB como heróis, ele deve estar chamando os participantes de heróis da Globo, porque o quanto o BBB arrecada de grana, não é brincadeira.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. mudança*


    [construímos meios ilusórios...]

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