segunda-feira, 19 de abril de 2010

Lola (parte 1)

Aquela garota púbere excitava os velhacos do bar, os jovens das escadarias e até mesmo os homens de Deus não resistiam a seu alento. E aqueles seus olhos picantes que comem o olhar do homem, como o demônio que tenta Eva, em uma sedução sem pureza, exibem o escárnio da santidade. Eu, ao longe, observava sua graciosidade perversa imaginando as nossas incansáveis noites de fornicação, enquanto ela ia com suas colegas de colégio.

A jovem garota aproximou-se de mim. Suas pequenas mãos pálidas e aveludadas tocam-me a face febril, meu corpo todo estremece como quem não controla seus instintos, como um animal que cede sem moralidade aos desejos da carne. Tento evitar o fogo que se aflora em meu corpo, mas ela se aproxima cada vez mais.

Às vezes a vejo como àquela de Basílio, ou então Ema que, abusando do luxo e da luxúria, abre as pernas tão facilmente por achar que amando com os bichos está abrindo lacunas de diversão em sua pacata vidas. Porém, ela é diferente, é mais ardente, é mais profunda.

Como Blimunda a Baltasar, ela insistia no descompasso do relacionamento. Indagava, após motejar em meus ouvidos, com sua voz suave e dedicada as suas questões do amor:

- Não me fales do amor, pois sequer ele existe. O amor não tem cor, forma, sentido nem direção. O amor não é palpável, concreto... O amor não é visível, mas a alma o saboreia!

Sabia que não era certo envolver-me com Lola. Sou casado, velho e tenho filhos com a idade dela. Entretanto, ela é como o próprio diabo corrompendo-me a carne, dilacera meus valores e minha moral, pois necessita de meu corpo para celebrar a rebeldia.

Tentei deixá-la, mas a garota com quem deito nos leitos de motéis é como o ópio ao povo, ilude-nos a mente e nos domina pelo resto da vida, em uma simbiose de grande dependência.

Ao despí-la, sentia-me novamente aquele garoto travesso, cheio de aventuras. Não era como minha esposa, que me olhava com olhos cansados, esperando os últimos raios de sol. Lola era o sol, ao menos tão quente quanto ele. Nutrida pelo suor de nossa paixão, Lola emergia sons maviosos e plangentes, sonorizando o concúbito pecaminoso.

[...]

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